UFMG e Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade iniciam projeto de restauração de pinturas decorativas em paredes do Museu Casa Padre Toledo

Rara referência de ornamentação do período colonial, pinturas começam a ser reveladas esta semana.

Teve início nesta semana, o processo de restauração das pinturas decorativas da Sala do Torreão do Museu Casa Padre Toledo (MCPT). Localizado na cidade de Tiradentes, o prédio remonta à segunda metade do século XVIII e foi residência do Padre Carlos Correia de Toledo e Melo, que participou ativamente da Inconfidência Mineira. Transformado em museu no ano de 1971, vinculado à Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade (FRMFA), o edifício integra, atualmente, o Campus Cultural UFMG em Tiradentes, vinculado à Diretoria de Ação Cultural da UFMG.

Exemplar único da arquitetura civil colonial, o projeto de restauração das pinturas foi viabilizado com recursos advindos de emenda parlamentar. O objetivo é revelar ao público a beleza das pinturas decorativas da Sala do Torreão, mapeadas entre 2011 e 2012, a partir de uma série de estudos conduzidos durante a última restauração do edifício e de seus bens integrados. Na época, foram realizadas prospecções visando identificar as características e estado de conservação das imagens, que estavam encobertas por 13 camadas de repintura, supostamente em função dos diversos usos e intervenções pelas quais a Casa passou ao longo do século XIX e XX. O projeto “Restauração dos elementos artísticos integrados do MCPT”, gerido pela Fundep, possibilitará o trabalho de restauração que teve início este ano.

“A partir dos estudos realizados no passado, foi possível identificar a composição ornamental original, caracterizada como um trabalho do período rococó em Minas Gerais, bem como mensurar a porcentagem de vestígios remanescentes da pintura. Trata-se de uma imitação de tecido de seda lavrada, influência do rococó francês, representada pela decoração composta por ramos florais assimétricos, matizado suave, intercalados por ramos vegetais em composição em losangos e distribuídos sobre fundo em imitação de damasco”, comenta a coordenadora do projeto, Verona Segantini.

A atual diretora do Campus Cultural UFMG em Tiradentes e presidente da FRMFA, Verona, explica que as pinturas possuem características excepcionais e são consideradas rara referência de ornamentação em edificações civis do período colonial. “A decoração floral da Sala do Torreão pôde ser identificada pela primeira vez por meio de duas janelas estratigráficas – técnica que consiste na remoção camada a camada de estratos pictóricos para análise – realizadas, possivelmente, durante uma das grandes intervenções de restauro ocorrida em 1942/43, 1962 ou 1981/82”, esclarece.

A previsão é que os trabalhos sejam concluídos em setembro deste ano, após diversas etapas conduzidas pelo restaurador André Luis de Andrade, graduado em Conservação-Restauração de Bens Culturais pela UFMG e mestrando em preservação do patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Centro Lúcio Costa (CLC/IPHAN).  Ao todo, 11 pessoas estão envolvidas no projeto, que é realizado simultaneamente em Tiradentes e Belo Horizonte. Também foi constituído um grupo de discussões reunindo conservadores, restauradores, professores e pesquisadores representantes de diferentes instituições, cujo objetivo é acompanhar a intervenção, promovendo a troca de experiências, discussões conceituais e técnicas, além da divulgação de conhecimento. “Nosso objetivo é que o processo de restauração dos elementos artísticos integrados seja também catalisador da produção de conhecimento no campo das ciências  do patrimônio e áreas correlatas, como história da arte, arquitetura, história, museologia etc”, afirma André Luis.

Concomitantemente à restauração, serão realizadas ações educativas e formativas, assim como a produção de recursos audiovisuais que integrarão a exposição de longa duração do Museu. Ao longo dos oito meses estimados de intervenção, também estão previstas visitas técnicas para acompanhamento dos processos e ações de divulgação e interlocução com os diferentes públicos que visitam o local.

O Museu

O Museu Casa Padre Toledo é um importante espaço de difusão da história de Minas Gerais e da Inconfidência Mineira. Constituído por uma estrutura principal com onze salas e um torreão, ele possui um rico conjunto de forros pintados. Desde sua criação, tem como principal missão a preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural referenciado nas suas singularidades arquitetônicas, que incluem emprego de diferentes técnicas construtivas, como o pau-a-pique, adobe e moledo, além de elementos artísticos integrados. Cerca de 30 mil pessoas visitaram o museu anualmente, antes da pandemia do novo coronavírus.

Em 1952, antes mesmo de se tornar museu, a antiga Casa do Padre Toledo teve sua representatividade arquitetônica, histórica e artística reconhecida, quando recebeu tombamento individual pelo IPHAN e foi inserido no Livro de Belas Artes.

(Por Redação Jornal Panorama)

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