Ornamentos da parede do torreão do solar conhecido como Casa Padre Toledo, equipamento cultural da UFMG, foram restaurados e estão expostos à apreciação de moradores e turistas que visitarem a cidade histórica de Tiradentes. O projeto de recuperação, que contou com uma equipe com 11 profissionais, entre restauradores, pesquisadores e técnicos, foi executado com recursos de emenda parlamentar individual impositiva ao Orçamento da União. O autor da indicação, no valor de R$ 100 mil, realizada ao Orçamento de 2022, é o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG).
Para a diretora de Cooperação Institucional da UFMG, professora Zélia Lobato, os recursos de emendas parlamentares têm contribuído de forma significativa para a realização de projetos em diversas áreas do conhecimento. Ela destaca a participação do deputado Reginaldo Lopes: “ele é um dos parlamentares mais sensíveis às nossas demandas e sugestões de projetos. O deputado tem emendas indicadas para a UFMG desde 2015, com apoio a 13 projetos”, destaca Zélia Lobato.
Há projetos realizados com recursos de emendas individuais indicadas pelo deputado federal Reginaldo Lopes na Faculdade de Medicina, no Instituto de Ciências Agrárias, em Montes Claros, nas faculdades de Ciências Econômicas (Face) e de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), entre outras unidades da Universidade.
Pinturas sofisticadas
Entre 2010 e 2012, foram realizados diagnósticos e estudos, mas apenas em 2022 começaram os trabalhos de restauração das pinturas da Casa Padre Toledo. Os ornamentos, de autoria desconhecida, estavam sob 13 camadas de tinta, o que demandou um trabalho delicado de remoção das camadas de repintura; nivelamento e preenchimento de lacunas, trincas e pontos com perda de reboco e, finalmente; a reintegração cromática e a apresentação estética das ornamentações.
De acordo com Fernando Mencarelli, pró-reitor de Cultura da UFMG, trata-se, ao que tudo indica, do único exemplar de pinturas parietais que permaneceram no contexto dos bens tombados da cidade de Tiradentes. “Esse trabalho concilia a missão da Universidade de fazer pesquisa e formação por meio dos seus projetos de intervenção, no caso sob as especialidades da conservação, restauração e história da Arte”, afirma o professor no documentário Paredes do Torreão, lançado em 17 de agosto, Dia Nacional do Patrimônio Cultural.
A pintura é uma rara referência de ornamentação em edificações civis do período colonial. O restaurador André Andrade, que coordenou os trabalhos, ressalta que são pinturas sofisticadas e muito pouco comuns em residências, sendo comumente encontradas em igrejas. Agora totalmente restauradas, as pinturas murais estão integradas à edificação e propiciarão ações de pesquisa, formação e comunicação museológica.
Restauração aberta
O processo de restauração pôde ser acompanhado pelos visitantes e, segundo a professora Verona Segantini, presidente da Fundação Rodrigo Melo Franco, que administra e responde pelo museu Casa Padre Toledo, o edifício, que data do século XVIII, foi reaberto ainda durante o período de isolamento social, medida necessária para conter o avanço da pandemia de covid-19, com horários de visitação ampliados, para que pudesse receber público espontâneo e grupos interessados em conhecer os processos de restauração então em curso.
“Como projeto de extensão, e essa é a parte que considero mais rica e mais importante, nós tivemos uma participação ativa da comunidade ao longo desse processo que se iniciou com a nossa ida às casas dos moradores de Tiradentes, convidando a todos para que estivessem aqui presentes, acompanhando esse ateliê aberto de restauração, que durou quase um ano”, afirma a professora, também no documentário Paredes do Torreão.
Padre Toledo
Marco arquitetônico do período de exploração mineral na então Vila de São José del-Rei, antiga Comarca do Rio das Mortes, a Casa Padre Toledo abriga limiares de espaços e tempos diversos de grande importância na vida social, política e cultural. Até 1789 a casa atraiu as atenções da região, quando nela residiu, por 12 anos, o Padre Toledo, senhor de grandes posses e um dos mais ativos personagens da Inconfidência Mineira. A presença do pároco marcou este solar que testemunhou reuniões e encontros entre várias figuras ilustres do período.
O inconfidente Padre Toledo nasceu em Taubaté, em 1731, capitania de São Paulo, de onde no século anterior haviam partido tantas entradas e bandeiras, atravessando a Mantiqueira em busca das minas. Era vigário colado da Matriz de Santo Antônio desde 1777, e presbítero do hábito de São Pedro. Tinha 58 anos quando foi preso, em 1789, atravessando a Serra de São José. Foi acusado pelo Acórdão da Alçada de convidar para a conjuração o seu irmão, Luís Vaz de Toledo Pisa, sargento-mor da Cavalaria Auxiliar de São João del-Rei, e declarou nos autos da devassa a sua participação nela. Expatriado para Portugal, permaneceu inicialmente encerrado na Fortaleza de São Julião, até ser transferido para uma prisão eclesiástica em Lisboa, onde veio a falecer.
(Com informações do portal UFMG, do site Campus Cultural UFMG e do documentário Paredes do Torreão)